quarta-feira, 29 de julho de 2009

Poema "Estação do Vento"


Olhar as árvores, penetrar no âmbito das suas folhas, concentrar-me em sua pele. Presenciar o seu tempo de vida que, do viço nascente do verde caminha até à maturidade de palha. Isso sempre me leva a viajar e ... escrever.

estação do vento
Jopin Pereira

no meio da tarde,
vou recolhendo
as folhas que passam ao vento,
e me trazem em suas ranhuras
tantas texturas,
enquanto aguardo o trem aparecer...

leio-as,
mais com a palma das mãos
que pelas frestas dos olhos,
quase em Braille,
pois são como arranhões
que chegam ao coração,
me rasgando
com a força de um grito contido,
como tudo até ali vivido,
e que só pôde ser libertado
ao ser nelas lido.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Poema Renascimento


renascimento
jopin pereira
criação: 1 de junho de 2008 14:58:14
Ingá, Niterói.
revisão: 22 de julho de 2009 11:50
Barreto, Niterói

ontem,
antes de sair para caminhar,
olho pela minha janela
de um décimo andar,
e elas me chamam a emoção.

vejo, num relance,
as breves folhinhas secas
caindo sobre os táxis,
e sobre o anônimo leito da rua,
ainda banhadas
por um raio do sol
como um manto mortuário.

hoje,
volto à janela e
até as folhinhas restantes
se foram;
a chuva da madrugada
as lavou
e levou.

ao descer,
busco por seus epitáfios
no leito pétreo
do tapete asfáltico.
não precisaram deixar nada.
me falaram antes.
quando as vi caírem,
já estava dito.

uma delas dizia:
- vivi!
- encerrei minha missão
de te fazer sentir,
ao me ver morrer,
o renascer da tua emoção.

domingo, 19 de julho de 2009

Trova, pra que te quero?

Comemorou-se ontem, 18 de julho, o Dia Nacional do Trovador. A escolha dessa data está associada a uma homenagem ao poeta Luiz Otávio, pseudônimo usado pelo dentista, Dr. Gílson de Castro, carioca nascido em 18 de julho de 1916 que, de tão dedicado a essa arte, teve a si atribuído o título de Príncipe dos Trovadores.

Devido à minha recente imersão ao universo da trova, apesar de elemento poético sempre presente em nossas vidas, procurei valer-me de informações de diversas fontes da Internet para dar corpo e validação a este post. Ao final, cito as fontes, por respeito e admiração aos autores, aos quais peço licença pela utilização e agradeço a contribuição.

Por alguns, considerada poesia menor, a trova é arte antiga, melhor diria, clássica. Tradição iniciada por volta do século XI d.C. , durante esse período as poesias passam a ser acompanhadas de músicas, o que perdurou por muito tempo, havendo inclusive remanescentes desta tradição em nossa famosa literatura de cordel, muito conhecida no nordeste brasileiro.

Os primeiros trovadores modernos surgiram no século passado na Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo. Tem sua origem na poesia trovadoresca medieval que evoluiu para o que hoje conhecemos como a trova moderna. Criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França, expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

De construção elaborada, parece ter sido fácil a sua feitura quando lida, tal a beleza da simplicidade que transporta. Ainda hoje, alguns homens de letras se recusam a reconhecer o valor da trova, considerando-a como consideram coisa sem valor intelectual.

Uma trova de Adelmar Tavares, advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nascido em Recife, em 16 de fevereiro de 1888, e falecido no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 1963, que foi acadêmico da Academia Brasileira de Letras, quinto ocupante da Cadeira 11, reflete a importância, a grandeza e asimplicidade da trova e traz um precioso argumento contrário à essas opiniões.
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita,
tão difícil de fazer.

Que o leitor me desculpe, mas tenho que falar um pouco da técnica da trova, para mostrar que não é um simples arranjo de palavras, tão fácil como alguns julgam, mas também não tão difícil que impeça alguém de sensibilidade criar as suas. Um exemplo de simbiose perfeita entre a técnica e sensibilidade.

A trova tradicional é uma composição poética de quatro versos de sete sílabas poéticas (heptassilábico) cada. As sílabas poéticas são contadas pelo som, acompanhando a emissão natural da voz. Na contagem dos versos, o número de sílabas poéticas é contado somente até a última sílaba tônica. As restantes, após a tônica são desprezadas. Essa construção pode ser exemplificada numa trova muito conhecida, a seguir:
Eu/ vi/ mi/nha/ mãe /re/zan/do
Aos/ pés/ da / Vir/gem/ Ma/ri/a
E/ra_u/ma/ San/ta_es/cu/tan/do
O /que_ou/tra /San/ta/ di/zi/a

Quatro versos, sete sílabas poéticas e oito sílabas gramaticais (apenas o último verso contém nove)

O mais comum é encontramos trovas em que o 1º verso rima com o 3º e o 2º verso com o 4º. Em trovas mais antigas acontecem rimas do 1° verso com o 4° e do 2º verso com o 3º, além de do 1º verso com o 2º e do 3º verso com o 4º. Há ainda trovas em que se faz rima apenas do 1º verso com o 3º, mas isso não é bem visto e nem sempre aceito em concursos.

A trova, para ser bem feita, tem de ter um achado. Achado é algo diferente, uma surpresa, uma conclusão no último verso. Adelmar Tavares diz : "Nem sempre com quatro versos setissílabos, a gente consegue fazer a trova; faz quatro versos, somente". Ou seja: não é trova se não houver o achado.
Para exemplificar a presença do achado numa trova, trazemos essa inspirada composição de Durval Mendonça:
Ao beijar a tua mão,
que o destino não me deu,
tenho a estranha sensação
de estar roubando o que é meu...

Porque o Destino não lhe deu a mão da mulher amada, e a sensação de roubar algo só pode acometer quem não possui aquilo que supostamente rouba. Supostamente rouba, ao mesmo tempo em que, no íntimo, a tem como sua: roubar aquilo que é seu. Mas como pode roubar aquilo que é seu? Porque, no fundo, não é seu. E é nesta contradição que reside o achado desta trova.

Longe de mim, querer criar aqui um tratado sobre a trova. Não disponho do conhecimento necessário a essa tarefa e, a minha incursão no estudo do tema é recente. Existem textos muitos ricos, com abordagens de diversos níveis, do teórico ao popular, de trovadores e estudiosos que se dedicam a esse elemento poético, como se costuma dizer, “desde as priscas eras”. Quero apenas, com a incorporação desse resumo de informações, divulgar essa nobre arte e trazer uma mínimo de conhecimentos que permita a compreensão da sua importância e beleza, como está sendo para mim, ao homenagear os trovadores nesse seu dia.

Vamos então ao que mais interessa. Mostrar algumas das trovas que me tocam, e espero que tenham o mesmo efeito em quem as leia. Um pequeno mosaico de simplicidade, alegria, humor, picardia, inocência.
Trovas populares de autores que desconheço. Se alguém souber, peço que me informem:

Eu sou bem pequenininha
do tamanho de um botão
carrego papai no bolso
e a mamãe no coração

Atirei um cravo n'água
de teimoso foi ao fundo
os peixinhos responderam
viva dom Pedro II

Nas pernas a “cola” é escrita
e, o professor espreitando
fica feliz quando a Rita
ergue a sai e vai colando

Morreram muitas piranhas
quer motivo comprovado ?
as pobrezinha comeram
um político afogado

Século 13: da novela de cavalaria espanhola Amadis de Gaula extrai-se a primeira trova independente — sem ser refrão de cantiga — de que se tem notícia, escrita em português arcaico e de autoria do poeta da corte de Dom Diniz, João de Lobeira:
Leonoreta fin roseta
Leonorzinha, fina rosinha
bela sobre toda fror
bela acima de qualquer flor
Leonoreta nom me meta
Leonorzinha, não me ponha
em tal coita vosso amor
em tal tristeza vosso amor

1900: De autoria Antônio Correia de Oliveira,
Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
Um a sentir quando bate,
outro a bater quando sente.

Do grande Machado de Assis
Ao nosso espírito ardente,
na avidez do bem sonhado,
nunca o passado é presente,
nunca o presente é passado.

Uma do Osório Duque Estrada (autor na letra do Hino Nacional Brasileiro
O amor perturbou-me tanto,
que este combate deploro:
querendo chorar, eu canto;
querendo cantar, eu choro!

Trova humorística da autoria de A. A. de Assis :
um homem de 70 e poucos anos, grande trovador fluminense.
Amigo/amiga, reparto
este espanto com você:
o parto não é mais parto;
é download de bebê.

Páro por aqui para o post não vira poste. Espero ter despertado no leitor a curiosidade e o interêsse em conhecer essa forma interessante da expressão poética. Com a facilidade da Internet, aqueles que se motivarem poderão encontrar inúmeras páginas ricas em informação e uma antologia universal de trovas.

Encerro a homenagem fazena a tentativa de construir uma trova, a primeira de minha vida – momento histórico - contaminado que fui, pela imersão a esse mundo mágico dos trovadores.

para a trova fiz um post
no blog do jopinando
o achado ficou tão ghost
nem eu mesmo estou achando

Comentem e enviem as trovas de sua preferência. E até de sua autoria.
O espaço é livre e a trova, mais ainda.
Jopin Pereira

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/trovas/1143428
http://www.iraiverdan.com/visualizar.php?idt=1636970
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trova
http://www.overmundo.com.br/overblog/origem-da-trova
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=14&sid=156http://www.kathleenlessa.prosaeverso.net/

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Perdidos e Achados

Na escrita do texto que publico hoje, deparo-me com um drama recorrente a quem escreve: a falta de idéias. Nem tenho certeza se é mesmo a falta; por vezes me sinto perdido é no excesso. O desafio de selecionar uma delas e discorrer sobre o tema, de olho no princípio, meio e fim. Parece aquela coisa do pescar. A dúvida em escolher e acertar a isca adequada. Ficamos ali jogando a linha na água, vendo o vizinho tirar um peixe atrás do outro e você ali, no conhecido “banho na minhoca”. Por momentos, um deserto; por outros, um oceano.
E aí, o que fazer?

Recorro às manifestações de diversos escritores respeitados sobre isso. Valho-me de um poema de Carlos Drummond de Andrade ─ Procura da Poesia ─ que me indica preciosos rumos quando estou perdido. A genialidade do mestre, sempre presente, vem me ensinar que o problema não está na falta de idéias; está em não saber procurá-las, trabalhá-las, acarinhá-las, respeita-las e amá-las. Assim, como a uma verdadeira mulher. Idéia é palavra feminina.

Destaco aqui um trecho, no qual me atrevo, com a devida vênia do mestre, a substituir ─ melhor dizer, interpretar ─ o termo “poemas” como ”textos”, de forma a atender à minha necessidade.

Assim, encontro a isca certa, mesmo que o peixe pescado não seja o que vi nadando. Foi melhor!

Procura da Poesia (excerto)
Carlos Drummond de Andrade

..... Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?.....


amor impossível
Jopin Pereira

Penso: “Para quem ama é tão difícil escrever sobre um amor impossível ou mesmo proibido. Talvez a racionalidade não tenha me permitido viajar nessas instâncias da paixão, da fantasia, e deixar que eu amasse alguém ou alguma coisa que não conseguisse obter. Ihhh... Será que tenho algum desvio ou bloqueio psíquico? Será que temo desafios? Acho melhor não caminhar nesse brejo. Posso afundar e nos perdermos, eu e o tema, levando junto o conto. Recrimino-me por ser assim, quando, no momento, tenho que escrever sobre esse tema. Preferiria ter sido educado mais irracionalmente. Creio que ainda há tempo para ser autodidata nisso.”
Assim divagava quando comecei a escrever.

Saio para a caminhada. Ao retornar, ligo para a amiga poeta: – O que você acha de eu escrever sobre uma galinha que se apaixona por um espanador? ─, num tom de brincadeira e ironia. Surpreso, ouço que ela acha boa a idéia. Mas ainda não bate em mim aquela certeza de que devo escrever sobre isso. Ficamos “bestando“ na conversa por telefone, falando sobre minha dificuldade.

E ela, querendo me ajudar, ia desfiando sugestões:
─ Lembra daquela música que fala de um grão de areia que se apaixona? Deixa eu lembrar, ─ enquanto emite uns “lálálálála” incompreensíveis. ─ Ah, lembrei um pedaço. Acho que ele se apaixona por uma estrela, né? Taí, um caso de amor impossível. É isso mesmo. Lembrei. Aí, no final, nasce a estrela do mar...Lindo!

─ Legal! – me empolgo e, rapidamente, me desengano (mais um surto de racionalidade). Mas já está escrita, não é? S eu me basear nela, vai ficar meio que um clone. Não gosto de sugar idéias alheias. E, caindo nessa linha, vou acabar escrevendo sobre a colher de pedreiro que se apaixonou por um saco de cimento e nasceu uma parede e outros “impossíveis” amores.

Mas a idéia não me abandona totalmente. Prossigo: – Taí, como você gosta de bichos, vou escrever sobre amores impossíveis entre eles. Um gato que se apaixona por uma peixinha do aquário.
Alegro-me ao pensar ter encontrado o filão.

Ela corta a minha empolgação, rindo da minha desgraça, ou da peixinha: – Ahahahaha! Aí, o gato quer é comer a peixa, né?
– Mas quem namora quer comer, ora –, brinco e emendo: – Poderia ser um peixe-gato apaixonado por uma gatinha. Um jacaré que se apaixona por uma tartaruga, ama demais, mas na hora da fome o instinto se sobrepõe e a fome vence o amor. Ela me diz que isso não é amor. Penso: “Isso não vai dar certo”.

– O que eu queria mesmo era escrever uma estória entre duas pessoas, uma história viva. Mas tudo que penso já aconteceu ou já foi escrito. Tudo bem, vou pensar sobre amores de bichos e mais tarde decido o que vou escrever. Beijos ─, e desligo o telefone.

Agora à tarde, terminando esse emaranhado de palavras sobre amores complicados (por mim) vejo surpreso, que mesmo não contando uma estória estou escrevendo algo sobre o tema. Conformo-me, mas não fico satisfeito. Será que isso vale? Deixa pra lá.

Busco uma conclusão ou uma justificativa sobre tudo isso: “Creio que gosto mesmo é de escrever poemas, pois os sinto¬. É sentimento vivido que se corporifica nas palavras. Inventar uma estória é algo que ainda me soa falso. Talvez irreal ou algo parecido. Não sei bem caracterizar. Admiro quem escreve ficção, cria personagens, faz e refaz tramas, complôs, amores possíveis, impossíveis, permitidos e proibidos. Será que isso não é fruto da minha falta de conhecimento em como desenvolver a mente para a abstração criativa? Ih...falei difícil. O que serei meu Deus? Um escritor ou um escrevinhador. Ou um cara que busca escrever sobre a dor, um “escrevedor”. Um “ajuntador” de palavras. Vejo-me sendo mais um artífice das letras que ainda está na fase dos mosaicos. Junta pedacinhos de tudo que já viu e monta seu trabalho. Acho que estou é falando um monte de bobagens. Se um literato ler isso. xiiiii! abortou-se a minha carreira de escritor.”

Concluo: “No fundo, o meu amor pela palavra, pela literatura, pela crônica, pelos contos e pelos livros é um amor verdadeiro, fiel e crescente. No entanto, mesmo sendo um assumido apaixonado pela escrita, ás vezes, escrever me parece um ato de amor impossível, como hoje. Cruz credo. Afasta de mim essa idéia. Te esconjuro.”

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Obsoletismo humano


Assistindo a TV, vejo que a novidade lançada nos salões de beleza, decorrente de um salão anual de novidades, em São Paulo, era um compressor.
Compressor? Assustei-me com a brutalidade do instrumento. Sei que um compressor serve para muita coisa, mas, para a beleza?
É, creiam! Um compressor vai substituir pincel, que já substituiu o pompom, o aplicador, na aspersão dos pós, cremes, tintas, blush e tudo mais que cobre a face das mulheres.
A apresentadora da novidade dizia que há que ter muito cuidado e habilidade, pois pode se estragar todo o trabalho com um gesto mais descuidado.
Pena! Não sabem o que se perde com o carinho de um pincel, que além de aplicar o pó, leva um pouco de afeto e carícia também, mesmo não sendo o fim especifico do ato, mas por um benéfico efeito colateral.
E o que se faz com os pincéis e tudo o mais?
Lixo...
É, pois todo mundo, para participar e ficar atualizado – upgraded – não mede sacrifícios para a novidade. Nem quem aplica, tanto o profissional quanto o cliente, o aplicado. E se você, mulher atualizada, não se submete à novidade, o que será de sua conversa com a amiga que disse estar chegando de uma “comprimida” (sessão de compressão facial) na face e não uma de maquilagem?
E com isso, os lixões se sucedem. Não há mais tempo para as coisas amadurecerem; aprenderem a ser usadas; ter a sua vida útil e aguardar brotar a nova evolução.
Mas será que tudo precisa mudar?
O guarda chuva é o mesmo até hoje. Já se fez de tudo para substituí-lo, no entanto, até as rainhas não o dispensam nos dias de chuva.
E o lixão vai crescendo..
Os raladores de legumes, os pratos redondos, o rádio que só pega AM, etc e tal...
E, nesse ambiente de cozinho, - uffaaaa - quanta coisa nova, e inútil!
E o dos computadores, informática e tudo mais: som, tv, telefones, gadgets eletrônicos?
Haja adaptação.
Agora, estou temendo que as pessoas que não evoluam como as empresas e corporações desejam, comecem a ser substituídas pelos novos “produtos-seres” ou vice-versa.
É, e isso já acontece. Tanta gente dispensada, desemprego.
E o pior é quando alcança a família, em que os obsoletos membros são jogados num asilo e/ou entregues a uma acompanhante, pois não há tempo para a família cuidar do “produto” em desuso.
Tanto a aprender, tanto a ser ensinado. Tanto a se ganhar, mas muito a se perder!
Não se esqueça! Todo mundo envelhece!
Jopin Pereira

Ensina-me

Bertold Brech
in “Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas”
Tradução de Paulo Quintela


Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.

Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Anjos e demônios

Recentemente deparei-me com um fato íntimo que me levou a uma bifurcação de decisões.
Ah! Vida de dualidades! Espelho que reflete dois lados aparentemente iguais, mas intrinsecamente diferentes; opostos. Porém, sem elas não saberíamos viver.
Vivemos acreditando que temos as certezas de que caminhos optar quando surgem as indecisões, mas quando acontecem de verdade, trememos nas nossas crenças.
Anjos e demônios internos trazem à tona da alma as nossas fragilidades, os bons sentimentos e até as maldades que fazem parte do cadinho onde se fundem todas esses sentimentos que habitam em cada um.
Não cabe revelar o fato causador de tal reflexão, mas aqui publico o efeito sob a forma de poema, que melhor se ajusta à essência e forma de expressar a sensação do que passei.
Com o “andar da carruagem” o fato esgotou-se em si, no entanto houve um vencedor - nessa peleja não há empate -, que deixo a cada um que o leia, imaginar qual.
Ficou o poema, essa válvula de segurança da alma, que não nos deixa explodir, permitindo que, com segurança, escape um pouco da pressão interna, quando não a conseguimos controlar.
Jopin Pereira

Anjos e demônios
Jopin Pereira
19maio09, terça, 13:18

anjos e demônios
lutam dentro de mim.
gladiam-se até.

por vezes me entrego a alimentar
uns e outros:
comidas incomuns,
digestões diferentes,
resultados contrários.

sei que vai vencer
o que eu alimentar,
mas sua fome é grande.
os argumentos que trazem
para que eu defina a preferência
são sedutores,
chantagistas,
conquistadores,
mentirosos
e verdadeiros.

tenho me submetido a ambos
enquanto não decido
por qual deles
quero deixar viver.

Mas, no fundo,
quando estou longe do campo de batalha,
quando me ausento em mente,
quando me desvio dos motivos dessa luta
peço que os anjos me convençam
que é melhor optar por eles]
que aos seus rivais.

sei que vou trazer para mim,
com todas as consequências,
de ambos,
os valores
bons e maus,
daquele que eu alimentar,
e então, por isso,
percebo que
que não quero os demônios.

sei que quando faltar o alimento
eles vão comer a minha carne,
devorar a minha consciência,
arrancar meus pensamentos,
roer a sobra das minhas virtudes
e se deliciar com meus pecados,
até que, finalmente,
quando nada mais sobrar,
consumir a minha alma,
não restará
nem mesmo a lembrança
do motivo dessa luta.

* agradecimentos à poeta e revisora Vera Sarres pela contribuição à revisão do poema

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Retorno ao presente

Amigos, volto hoje a postar no blog Jopinando, cumprindo o leit-motif descrito no seu perfil, como sendo o despertador diário da minha sensibilidade.
Desperto, após um período de hibernação - não sei identificar se criativa ou preguiçosa -, acomodação ou amadurecimento. Prefiro esse último. No entanto, o amadurecimento chega a um ponto em que, se não forem exercidas as conquistas obtidas nesse tempo, corre-se o risco de perdê-las pelo apodrecimento. A natureza nos ensina isso todo o tempo, com as frutas e as flores.
Aproveito o momento para agradecer a sensibilidade e carinho do meu filho João Luis que, com a competência e qualidade, me presenteou com essas novas vestes que embelezam o corpo do blog, e que trazem estímulo, beleza e conforto visual a mim que escrevo e aos meus leitores.
Então, mãos à obra ao inicio da degustação dos frutos brotados nesse tempo.
Marco esse retorno, - por que não chamar de renascimento? – com um poema nascido há algum tempo, mas que, presentemente, renova um misto de compromisso e cumplicidade entre os elementos que me fazem escrever.
Jopin Pereira


Alma de Lápis

Jopin Pereira
02/03/2006

tomo-te em minhas mãos.
imagino-me dentro de ti.
quantas palavras presas nesta grafite!
o que é preciso fazer para libertá-las,
na planície de uma folha de papel?

uma mão?
uma declaração de amor?
uma inspiração?
um amor desfeito que se reconcilia?
uma receita de bolo?

é ... sou como tu.
vejo-me em ti.
tudo ali,
apenas esperando o momento da eclosão.
vamos combinar uma parceria?

juntemos a tua grafite
com a minha emoção,
e vamos dar vida
à nossa missão.

e então?
convidemos o papel.