sábado, 15 de agosto de 2015

PROTESTO CONTRA A POESIA DE ROBÔS


Acordo, pego o jornal O Globo de hoje, 15 de agosto de 2015, e leio, no caderno Prosa, isso:
= Inspirado em Jorge Luis Borges, projeto tenta ensinar poesia aos robôs =
“Experiência busca a dimensão literária dos algoritmos para tornar a interação entre humanos e computadores mais complexa
Que péssima notícia  (leiam em O Globo - Caderno Prosa)  para começar o sábado, o dia perfeito da semana. Jamais pensei em ler isso um dia: poesia de robô!!
Leiam o post completo no meu blog, Jopinando.

Observem a sutileza da manchete. E ainda utilizam o “patrocínio” de Borges para valorizar a estúpida ideia, construindo uma associação ilógica, numa interpretação forçada sobre uma expressão do escritor, conforme citada nesse trecho da notícia: - Além de Cousins, Jorge Luis Borges é outra fonte de inspiração para o projeto. Em uma palestra sobre a linguagem humana na Universidade de Harvard, nos anos 60, o escritor argentino definiu a metáfora como “uma identificação voluntária, por meio da emoção, entre dois ou mais conceitos diferentes”, capaz de criar conexões entre palavras tão díspares quanto “olhos” e “estrelas”. Onde isso tem a ver com ensinar poesia a robôs? Um argumento pífio para a justificativa da (espero) malfadada intenção que até, culturalmente, atribuo como criminosa.

O ser humano está se desumanizando cada vez mais. Os últimos bastiões, (antes, rincões) de humanismo, aqui representado pela poesia, - há quadros pintados por robôs - são invadidos pela tecnologia de uma forma vil, maléfica, maldosa, subversiva, ignorante, etc. Acrescentem-se mais modos em que essa bárbara invasão acontece.

Vamos sair ás ruas por isso também. Intitulamo-nos e conquistamos a posição de – Rio de Janeiro - Capital da Poesia – . Cabe-nos iniciar um movimento: “Robôs, fora da poesia!” Adicione-se às redes sociais uma “hashtag #robosforadapoesia”; crie-se um página no Facebook; faça-se divulgação nos saraus e mais o que puder. Adotemos como lema a essência dos versos de Fernando Pessoa:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”


Enfim, quem sou eu, poética e intelectualmente, e sem formação acadêmica para me opor a essa ideia e expressar esse protesto argumentando contra importantes pessoas e articulistas citados na notícia?

Não sou retrogrado. Sou favorável a novas ideias, novos conceitos, inovações e apreciador das conquista da tecnologia, mas, - “péra aí” –,  tudo tem um limite. Parafraseando o conceito de que “o seu direito termina onde começa o do outro”, pois então, o direito da tecnologia (robô) termina onde começa o da poesia”. Áreas totalmente díspares, assim penso.


Acredito que sei muito de humanismo, de viver a poesia que leio, em sentir a poesia pela qual me expresso e por olhar o mundo dos humanos com viés poético, mesmo dentro da dura realidade, dualidades inseparáveis, que escrevo com redundância, para enfatizar a minha contrariedade e a revolta contra esse prognóstico.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A busca (artigo reproduzido)
















Artigo de Marta Barcellos, no site Digestivo Cultural, em que retrata uma das principais dificuldades de quem escreve. Nós que escrevemos, por prazer e por pressão, muitas vezes empacamos, o termo é a palavra perfeita para expressar esse acontecimento, na busca dessas companheiras que dão o ponto, quando tecemos a trama do texto (vide texere). O tecido literário é a sua morada. Agradeço à autora pela argumentação que me fez absolver dos meus libelos quando não encontro a palavra certa. Sucesso na sua monografia. Antes, coragem e paciência.


A busca
sexta-feira, 30/9/2011
Marta Barcellos
A busca por uma palavra - uma palavra existente e exata - é um prazer e uma aflição. Uma aflição tão intensa que pode paralisar: difícil "tapar o buraco" e deixar correr o texto, para retornar depois, como a experiência mostra ser mais efetivo. Ao reler o trecho, reembarcando em seu sentido sem a peso da aflição, a palavra se revelará, como se estivesse lá todo o tempo, esperando apenas a tinta mágica emergir do papel.

Mas como também é prazer, a busca, uma vez encerrada, ganha ares de anticlímax. Que ótimo, era esta a palavra, perfeita, mas agora... o que fazer? Preciso de novas ideias, ainda mais originais e sofisticadas - ou, ao contrário, banais e descomplicadas - para poder me deparar novamente com o desafio (ô palavra desgastada) da busca.

Esta reflexão me vem porque acabo de dar uma daquelas paradas recomendadas pela experiência, com intuito de voltar ao texto mais tarde. Escrevo um trabalho acadêmico, a monografia da minha especialização em Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo (quanta pompa quando se juntam as palavras certas...).

A primeira busca neste trabalho surgiu ontem, quando em vão tentei escrever uma palavra. A palavra. Era daquelas únicas, sem variações ou sinônimos próximos, por se tratar de expressão encerrada numa palavra. Nem adiantava recorrer ao dicionário de sinônimos sobre a minha mesa - sempre um momento apreciado.Tasquei algumas ideias no Google, entre outras a palavra contradição, e de repente ela surgiu, se fazendo de sonsa: "Eu? É comigo? Mas eu estava aqui na prateleira o tempo todo! Pra que tanto fuzuê?" Ah, respondi, talvez porque não tinhas esse ar descomplicado de fuzuê(que beleza de palavra), estavas na pasta em que coloco as sofisticadas, dessas que se evita numa crônica, mas, preciso reconhecer, parece bastante apropriada em uma monografia. Não foi à toa que nem ao te checar no dicionário eletrônico te achavas: és paroxítona, e eu jurava que eras proparoxítona. Oximoro me respondeu: "Eu ganho a fama de pedante e acadêmica, mas é você quem gosta de complicar nos pronomes e acentos..."

Resolvido ontem meu problema com oximoro (quase me respinga o acento), hoje empaquei num verbo. E é aí que preciso de ajuda. Da sua ajuda. Tenho esperanças de, apenas usando este novo método de falar da busca em uma coluna, chegar ao fim dela com a pendenga resolvida. Mas sempre haverá a possibilidade, nesses tempos de internet (embora a interação já não seja grande coisa fora do Twitter e do Facebook), de precisar do seu assopro no meu ouvido (digo, nos comentários). Aí vou exclamar: "Isso! A palavra! Muito obrigada. Não acredito em como ela foi me fugir por tantos parágrafos, agora que está tão óbvia."

Pois sigamos na busca, por enquanto usando a minha própria rede de pescar palavras, feita de palavras, como dizia o poeta Octavio Paz. Sou refém da linguagem, mas sofro da Síndrome de Estocolmo - me afeiçoei a ela, à minha dominadora. Comecemos pela gramática: trata-se de um verbo. Por algum motivo (que pode ser falso e me conduzir a caminhos equivocados), cismei que é mais usado como transitivo, mas no meu caso seria intransitivo. Assim comosucumbir, que intransitivo torna-se morrer. Não que tenha significado parecido - e já me arrependo dessa associação, com jeito também de desvio de rota.

O tal verbo que busco é algo entre abrir mão e rejeitar. Explicando melhor, ele fica exatamente no ponto neutro da recusa. Quando se rejeita algo, fica subentendido que se trata de coisa ruim; quando se abre mão, de coisa boa, mas... Neste momento, no instante exato deste raciocínio, a palavra me passou de raspão. Escapuliu da ponta da língua da memória e escafedeu-se novamente. Se fosse jogo de quente-frio, eu estaria fria em sucumbir e morna em... qual era mesmo o raciocínio que me levava a ela?
Abrir mão, estar abdicando de algo. Talvez valha a pena digitar abdicar no dicionário eletrônico; pode surgir um sinônimo próximo. Ou no Google. Nada. Nenhuma associação de ideias surge das palavras distanciadas e embaralhadas na tela. É preciso cuidado com os desvios. Nem tento o dicionário de sinônimos.

Volto ao texto original, onde tudo começou.

Sei que você, aqui comigo nesta empreitada, percebeu a dificuldade de me ajudar se eu não forneço um mínimo do contexto no qual o tal verbo precisa ser empregado. Tem razão. Mas é uma monografia, lembra? Se eu fosse tentar resumir aqui a ideia do parágrafo acabaria escrevendo todo o capítulo, na verdade introdução, e isso tudo já anda um tanto árduo para mim. Mais de 20 anos lidando basicamente com o texto jornalístico, e agora preciso recorrer à engavetada linguagem acadêmica. Não vou negar que me divirto com o passeio, faço "pontes" entre termos acadêmicos e não acadêmicos (pontes, e não associações como seria no jornalismo, ou links como caberia na internet), mas no fim só eu acho graça de colocar na mesma frase problematização, entrelugar e pertencimento. Ninguém entende a piada.

Pois o contexto - é só o que você precisa saber - é o de se referir a algo que se convencionou positivo e nobre. Mas que algumas pessoas estão rejeitando, ou melhor, abrindo mão, ou melhor... Elas dizem: "passo". Estão neutras. O verbo não traz nele o juízo sobre o objeto rejeitado (então é transitivo???). Mais que isso, é importante que o autor, ao descrever o fenômeno, não perpasse um julgamento de que essas pessoas estão certas ou erradas, ou insinue um posicionamento político em sua atitude.
Compliquei, né? Pois agora me ocorre um paralelo. As pessoas - as tais mencionadas no estudo - estão apenas dizendo: prefiro não. Como em Bartleby, o escriturário de Herman Melville. Corro ao Google novamente. Bartleby, e as letras vão preenchendo sozinhas analysis. Nada. Nenhuma associação, ponte ou link.

Melhor deixar o texto dormir. Nessas alturas, já são dois textos - a monografia e a crônica. Observarei amanhã se a tinta mágica brotou na tela. Eles dormirão e eu também, ainda com a sensação da busca. Sei que a palavra pode dar as caras no meio da noite, como um fantasma alegre. Já aconteceu. (Será mesmo que quero acabar a busca, sem a certeza da próxima?)

No dia seguinte, pela manhã, leio no Globo um ensaio de Francisco Bosco que parece referir-se à minha busca na véspera. O assunto, entretanto, é a dificuldade do escritor diante da língua estrangeira: "O escritor é aquele que sabe o peso de cada palavra, é quem fez de si um instrumento de alta precisão, um semantômetro, capaz de submeter cada palavra, em frações infenitesimais de um segundo, a cálculos complexos que levam em conta as suas significações possíveis, o contexto (por sua vez formado por outras palavras, submetidas ao mesmo cálculo, ao mesmo tempo) que determinará sua significação, a história de seu uso, a sua incidência atual na língua falada e escrita, entre muitas outras variáveis. É esse instrumento que, ao contato com a língua estrangeira, desafina. A língua sai do registro de alta definição para o da imagem desfocada."

Já pensou uma busca daquelas, a da monografia e da crônica, em inglês? Prefiro não. Declinaria da tarefa. Declinar.

Ei-la. Ela chega marota, com medo da bronca por ter escapulido, mas acabo sorrindo de sua travessura. Faz uma reverência, inclina-se, em nome de seu outro sentido, e eu complemento com a minha mão o ritual, abrindo passagem. Entre, sente-se no meu texto - que agora são dois - e não me apronte outra dessas.

Nota do Editor
Marta Barcellos mantém o blog Espuminha 

Fonte:  http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3413&titulo=A_busca

quarta-feira, 1 de julho de 2015

silêncios (poema)
















silêncios

     jopin pereira
     01jul2015 08:30
 
na silente da madruga,
o teu e
o meu silêncio
sintonizam-se.

entoo
numa voz impercebível
um canto,
sem graves ou agudos,
composto por tons inaudíveis,
a um coração
que se faz surdo.

e o meu silêncio
recolhe-se à esperança,
silencia o silêncio
e retorna-se mudo.

domingo, 28 de junho de 2015

Tentativa de um hai-kai

beijo na boca.
a rima é pobre,
mas perfeita:
que coisa louca!


quinta-feira, 25 de junho de 2015

chove! (poema)


chove!
       jopin pereira
        25/06/2015r

chove!
lágrimas de chuva correm
no vidro de minha janela.
descaem pela face da noite
em que se transformou a minha vida.

em seu lento caminhar,
rolando sobre a face vítrea
impressa em minha janela,
desenham um rosto.

não mais que um contorno.
uma contínua linha
expressa a presença
de alguém que se foi,
e no entanto continua presente,
marcando todos os meus momentos.

difícil apagar tantas marcas,
de tudo que foi vivido,
pensado, sonhado.

reconstruir a alma?
curar a dor do sentimento partido?
acreditar que é real a partida?
ainda não sei bem;
uma parte de mim se foi.

a linha se esgueira
pela fria superfície molhada,
destacando-se das demais gotas
que saltitam em sua volta.
parece que algumas gotas especiais se unem,
comandadas por uma mão imaginária,
que as liga.

para formar aquilo que vejo?
ou seria aquilo que quero ver?
será que só vejo?

sinto,
como se estivesse desenhando
em minha pele.
mas é no vidro
que se delineia o rosto que ali surge ,
desenhado pelas gotas da chuva.

uma história de vida,
um caminho trilhado.
quero entender
por que a estrada se estreitou?
em que ponto dela
a vida parou?

razões de vida?
escolhas?
incertezas?
desencontros?
o que?

o rosto finalmente se forma na janela:
é você!
desde o início eu já sabia.
sempre esteve impresso em mim.

mas a chuva se irá.
o sol chegará
para suceder a noite.
o que será do novo dia?

quando choverá novamente
para que eu possa te rever?

sábado, 20 de junho de 2015

Pátria Esfaqueada

   


 Jopin Pereira
       20/06/2015 11:35 h

A faca tem sido um instrumento que passou a aparecer, diariamente, nas manchetes dos jornais, nas tv’s, nas rádios, em suma, na boca do povo, e no corpo também. Ganhou status de celebridade.
O fato que lançou o “meme” * do momento foi gerado pelo caso do jovem que matou a facadas o médico que se exercitava de bicicleta, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Um assassino, que é tão vítima quanto o vitimado. Vítima de uma séria de erros, desacertos, más intenções, corrupções, e todo um leque de opções dos vapores fétidos exalados de um lamaçal que inebria, contamina, altera mentes e comportamentos, e age.

Seguiu-se ao fato uma enxurrada de notícias sobre esfaqueamentos, como sói acontecer nesses momentos. Não que o fato tenha estimulado esses atentados, mas sim, porque a sociedade e a mídia passaram a voltar a atenção para isso, e a registrar e mostrar o que sempre acontece e aconteceu todo dia aqui, e por que não dizer, no mundo.

Esse é tão somente o esfaqueamento físico, - o que não suprime a sua gravidade -, qual seja, obter ou tirar proveito de alguém por ameaça ou uso de uma faca ou similar. No entanto, o maior esfaqueamento que se faz é aquele contra o povo, suas instituições e empresas públicas, quando sangram os recursos da exploração das riquezas naturais do país, que trariam, se bem empregados, benefícios enormes para a população, sob todos os aspectos.

Esfaqueiam as pessoas, da criança ao idoso, principalmente os pobres: quando procuram os hospitais públicos e nem uma maca têm para se deitar;quando não têm a possibilidade de fazerem exames de última geração; quando acordam na madrugada para pegar uma senha (limitada) de acesso a uma mínima consulta, que muitas vezes são agendada com prazo de até um ano ou mais; quando não conseguem os medicamentos que os mantêm vivos, por vezes necessitando contar com o apoio da defensoria pública para obterem-nos; quando agendam cirurgias que são adiadas continuamente por falta equipamentos, materiais, instalações com problemas; quando não conseguem nem acessar algum recurso médico por falta de transporte por ambulância ou similar, e tantas coisas mais.

Esfaqueiam os estudantes, principalmente os mais carentes e sem recursos para acessar o ensino privado: quando prefeitos desviam as verbas de materiais escolares e alimentação das escolas públicas; quando pagam ao professor, a parte mais importante desse processo, valores ínfimos, indignos, obrigando-os a terem mais de um emprego, tirando-os o tempo fora das salas para se reciclarem e se preparem; quando fazem uma política perniciosa de cotas em vez de darem oportunidades a todos, de outras formas que não seja apenas entrar numa entidade por ter cor de pele diferente ou outra forma de preconceito estimulado; quando reduzem as verbas destinadas a estudantes que precisam financiar os seus estudos, para cobrir rombos derivados de falcatruas ou má administração em outras áreas.

Esfaqueiam a todos nós, população, quando os impostos não se revertem na infraestrutura, na melhoria dos serviços, no transporte ágil, provido e confortável, na segurança, na oportunidade de emprego, na educação, na saúde, enfim, naquilo tudo que uma nação de verdade precisa retribuir aos seus cidadãos.

Esfaqueiam a esperança, a civilidade, a dignidade, a honra, o respeito, o orgulho que todo cidadão deveria ter pela sua pátria.

Quem são esses criminosos? A grande parte de governantes e políticos, esses sim, que deveriam ter a “maioridade-cidadã” reduzida, (será que têm alguma?) para que pudessem ser julgados e condenados por seus crimes de “lesa-pátria”. **

País sangrando, desatadamente. Hemorragia nacional. Não há torniquete que a segure.
Só uma transfusão de caráter, honradez, responsabilidade,  respeito, honestidade, ética, humanismo e amor pelo próximo.

Pátria esfaqueada!

Meme *
Meme é um termo grego que significa imitação. O termo é bastante conhecido e utilizado no "mundo da internet", referindo-se ao fenômeno de "viralização" de uma informação, ou seja,qualquer vídeo, imagem, frase,  ideia,  música e etc, que se espalhe entre vários usuários rapidamente, alcançando muita popularidade..

Lesa-Pátria **
Qualquer aliança política, traiçoeira, que causa prejuízos ao País, acabando com a Democracia, Soberania e Liberdade de seu povo, bem como efetuando desvios fraudulentos dos cofres públicos, impondo com isso um regime autoritário fundamentado na esquerda ou direita, radical ou não, aparelhando o Estado e subjugando o povo, enganando,comprando,escravizando ou fraudando eleições para permanecer no Poder.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

SOBRE COMO SER UM ESCRITOR MELHOR (Stephen King)


Em seu livro de memórias On Writing, King compartilha valiosos insights. 

O renomado autor Stephen King escreve histórias que cativam milhões de pessoas ao redor do mundo, ganhando em volta de 17 milhões de dólares por ano. Ele não adoça o tema: “Não posso me sentar e dizer que não existem maus escritores. Desculpe, mas há muitos maus escritores.”, afirma o autor.
Não quer ser um deles? Aqui estão 22 grandes conselhos do livro de King em como ser um escritor melhor.

1. Pare de assistir televisão. Ao invés disso, leia o quanto for possível
Se você está apenas começando como escritor, sua televisão deve ser a primeira a ir embora. “É venenosa para a criatividade”, afirma o autor. “Escritores precisam olhar para si próprios e se virar para a vida da imaginação”.

Para tanto, devem ler o quanto podem. King leva um livro consigo a qualquer lugar, e até lê durante as refeições. “Se você quer ser escritor, deve fazer duas coisas acima de todas as outras: ler muito e escrever muito”, diz. “Leia amplamente e trabalhe continuamente para refinar e redefinir seu próprio trabalho”.

2. Prepare-se para mais falhas e críticas do que imagina saber lidar
King compara escrever ficção com cruzar o Oceano Atlântico numa banheira, porque em ambos “há muita oportunidade para dúvidas sobre si. Não apenas você vai duvidar de si, mas outras pessoas também. Se você escreve (ou pinta ou dança ou esculpe ou canta, suponho), alguém vai tentar te fazer se sentir mau sobre isso, é tudo”.
“Constantemente, você tem de continuar escrevendo mesmo quando não se sente bem com isso. Parar um trabalho apenas por ser difícil, emocionalmente ou imaginativamente, é uma má ideia”, ele conta. E quando você falha, King sugere se manter positivo. “O otimismo é uma resposta legítima e perfeita à falha”.

3.Não desperdice tempo tentando agradar pessoas
De acordo com King, rudeza deve ser a menor das suas preocupações. “Se você pretende escrever tão verdadeiramente quanto pode, seus dias de uma sociedade polida estão contados de qualquer modo”. Ele costumava ter vergonha do que escreveu, especialmente após receber cartas raivosas o acusando de ser fanático, homofóbico, assassino e psicopata.
Por seus 40 anos, ele percebeu que todo escritor decente foi acusado de ser um desperdício de talento. King definitivamente se ajeitou com isso. Ele conta: “Se você desaprova, só posso encolher meus ombros. É o que tenho. Você não pode agradar todos os seus leitores o tempo todo”. Então, King aconselha que pare de se preocupar.

4. Escreva primeiramente para si mesmo
Você deve escrever porque isso te traz prazer. “Eu fiz pelo puro prazer. Se você pode escrever por prazer, pode fazer isso para sempre”, afirma ele.
O escritor Kurt Vonnegut ofereceu um conselho parecido: “Encontre um assunto com o qual você se importe e sinta em seu coração que outros deveriam se importar. É esse cuidado genuíno, não são seus jogos de linguagem que serão o elemento mais sedutor de seu estilo”.

5. Enfrente coisas que são mais difíceis de escrever
“As coisas mais importantes são as mais difíceis de dizer”, diz King. “São delas que você se envergonha porque as palavras diminuem seus sentimentos.” Muitos grandes trabalhos escritos vieram após horas de pensamento. Na cabeça de King. “A escrita é um pensamento refinado”.
Ao enfrentar tarefas difíceis, tenha certeza de que está cavando fundo. “Histórias são coisas encontradas, como fósseis no solo… são relíquias, parte de um mundo pré-existente não descoberto”. Escritores devem ser como arqueologistas, escavando o quanto puderem encontrar para uma história.

6. Quando estiver escrevendo, se desconecte do resto do mundo
“A escrita deve ser uma atividade totalmente íntima. Ponha sua mesa no canto do quarto e elimine todas as distrações possíveis – de telefones a janelas abertas.”
Mantenha total privacidade entre você e seu trabalho. Escrever o primeiro rascunho “completamente cru, que me sinto livre para fazer com a porta fechada”. É a história despida, apenas de meias e cuecas.

7. Não seja pretensioso
“Uma das piores coisas que você pode fazer para a sua escrita é enfeitar o vocabulário, procurar por palavras longas apenas por um pouco de vergonha das suas curtas”, afirma King. Ele compara esse engano a vestir um animal de estimação em roupas de entardecer – tanto o animal quanto o dono ficam envergonhados, porque é completamente excessivo.
Como David Ogilvy, grande ícone no mundo dos negócios, disse em uma carta a seus empregados: “Nunca usem jargões como recontextualizar, desmassificar, atitudinal, julgamental. São marcas de um imbecil pretensioso. Além disso, não use símbolos exceto quando necessário. O simbolismo existe para adornar e enriquecer, não para criar um senso artificial de profundidade” diz Stephen.

8. Evite advérbios e parágrafos longos
Como Stephen King enfatiza diversas vezes em seu livro, “o advérbio não é seu amigo”. “A estrada para o inferno está pavimentada com advérbios”, ele crê e os compara a dentes-de-leão que arruínam seu gramado. Os advérbios são piores depois de “ele disse”, “ela disse” – essas frases ficam melhores sem adornos.
Você também deve prestar atenção em seus parágrafos, para que fluam com as voltas e com o ritmo de sua história. “Parágrafos são quase sempre tão importantes como parecem, quanto pelo que dizem”.

9. Não seja apegado demais a gramática
De acordo com King, escrita é primeiro sobre sedução e não sobre precisão.
“A linguagem nem sempre precisa usar gravata e sapatos de laço. O objeto da ficção não é a certeza gramatical, mas sim fazer o leitor se sentir bem-vindo e o contar uma história. Você deve se esforçar em fazer a pessoa se esquecer de que está lendo uma. ”

10. Aprenda a arte da descrição
“A descrição começa na imaginação de quem escreve, mas deve terminar na de quem lê”. A parte importante não é escrever o suficiente, mas limitar o quanto será dito. Visualize a experiência que você quer proporcionar a quem lê, e então traduza o que vê em mente em palavras na página. Você precisa descrever coisas “de maneira a fazer o leitor sentir formigamentos”.
A chave para uma boa descrição é a clareza, tanto na observação quanto na escrita. Use imagens limpas e vocabulário simples para não cansar quem lê. “Em muitos casos, quando a pessoa põe a história de lado é porque ficou chata, e essa chatice veio porque o escritor se encantou com seus poderes descritivos e perde a vista de sua prioridade, que é manter a bola rolando”.

11. Não dê muitas informações de pano de fundo
“Você precisar se lembrar de que há uma diferença entre palestrar sobre o que sabe e usar seu conhecimento para enriquecer a história. Esta é ótima, aquela não”. Certifique-se de incluir detalhes apenas para mover a história adiante e persuadir a pessoa a continuar lendo.
Caso precise pesquisar, faça com que não encubra a história. A pesquisa deve se incluir nela “tão longe como um pano de fundo ou entrelinhas que você precisar”. Você pode se sentir envolvido pelo que aprende, mas os leitores vão se importar muito mais com suas personagens e enredo.

12. Conte histórias sobre o que as pessoas realmente fazem
“A má escrita é um problema de sintaxe e observação culposa. Geralmente, vem de uma recusa teimosa em contar histórias sobre o que as pessoas realmente fazem – encarar o fato, digamos, que as vezes um assassino ajuda uma senhora a atravessar a rua”. As pessoas nas suas histórias são os aspectos com os quais seu leitores mais irão se importar, e você deve se certificar de toda a dimensão das suas personagens.

13. Arrisque-se, não há jogo seguro
Primeiro e mais importante: pare de usar a voz passiva. É o maior indicador de medo. “Estou convencido de que o medo é a raiz de muitas más escritas”, diz Stephen King. Escritores devem jogar os ombros para trás, esticar as canelas e pôr a escrita a serviço.
“Tente qualquer coisa que goste, não importa quanto entediantemente normal ou ultrajante. Se funciona, ótimo. Se não, jogue fora.”

14. Entenda que você não precisa de drogas para ser um bom escritor
“Afirmar que esforço criativo e substâncias de alteração mental estão entrelaçados é um dos grandes mitos pop-intelectuais do nosso tempo”. Aos olhos de King, escritores usuários de drogas são apenas usuários. “Alegar que drogas e álcool são necessários para aflorar uma sensibilidade refinada é apenas um self-service de besteira”.

15. Não tente roubar a voz de outra pessoa
“Você não pode mirar um livro como um míssil”, afirma Stephen King. Quando você tenta imitar o estilo de outro escritor por qualquer motivo, você não produz nada além de imitações pálidas. Afinal, você nunca deve tentar reproduzir a maneira que alguém se sente e experimenta algo, principalmente sem prestar atenção a uma profunda análise de vocabulário e enredo.

16. Entenda que a escrita é uma forma de telepatia
“Todas as artes dependem de telepatia em algum grau, mas acredito que a escritá é pura destilação”, diz King. Um elemento importante da escrita é a transferência. Seu trabalho não é escrever palavras na página, e sim transferir ideias dentro da sua mente nas cabeças dos leitores.
“Palavras são apenas a mídia pela qual a transferência acontece”. Em seu conselho de escrita, Kurt Vonnegut também recomenda que escritores “usem o tempo de um total estranho de maneira que a pessoa não sinta ter desperdiçado tempo”.

17. Leva sua escrita a sério
“Você pode se aproximar do ato de escrever com nervosismo, empolgação, esperança ou desespero”, afirma King. “Faça isso de alguma maneira, mas de leve”. Se você não quer levar sua escrita a sério, ele sugere que você feche o livro e faça outra coisa.
Como a escritora Susan Sontag disse: “A história deve atingir um nervo – em mim. Meu coração deve parar de bater quando ouço a primeira linha em minha cabeça. Eu começo a tremer nesse risco”.

18. Escreva a cada dia
“Assim que começo um projeto, eu não paro e não desacelero a menos que eu absolutamente precise”, conta Stephen. “Se eu não escrevo todo dia a personagem começa a mofar em minha mente… começo a perder meu controle sobre o enredo e o ritmo”.
Se você falha em escrever diariamente a empolgação com a ideia pode começar a sumir. Quando o trabalho começa a parecer um trabalho, King descreve esse momento como “o beijo da morte”. O conselho dele é escrever uma palavra de cada vez.

19. Termine seu primeiro rascunho em três meses
King gosta de escrever 10 páginas por dia. Em um prazo de três meses, isso soma em torno de 180.000 palavras. “O primeiro rascunho de um livro – mesmo dos longos – não deve demorar mais de três meses, o tempo de uma estação”. Se você passa tempo demais em uma peça, King acredita que a história começa a ter uma sensação estrangeira.

20. Quando terminar de escrever, dê um longo passo para trás
King sugere seis semanas de “tempo de recuperação” após terminar a escrita. Assim, você pode ter a mente limpa para perceber quaisquer buracos no enredo ou no desenvolvimento da personagem. Ele afirma que a percepção original de uma personagem pelo autor pode ser tão faltosa quanto a do leitor.
Ele compara a escrita e a revisão com a natureza. “Quando você têm de escreve um livro, investe dia após dia escaneando e identificando as árvores. Quando termina, tem de dar um passo para trás e olhar a floresta”. Quando você encontra seus enganos, ele diz que “você está proibido de se sentir depressivo sobre eles ou de se bater. Confusões acontecem aos melhores de nós”.

21. Tenha coragem de cortar
Durante a revisão, escritores constantemente tem a dificuldade de abandonar palavras que eles escreveram por tanto tempo. Mas, como King aconselha, “mate suas queridas, mesmo quando isso quebra seu pequeno coração de escriba egocêntrico, mate suas queridas palavras”.
Apesar da revisão ser uma das partes mais difíceis da escrita, você precisa abandonar as partes chatas para avançar na história. Em seus conselhos sobre escrita, Kurt Vonnegt diz: “Se uma sentença, não importa quão excelente ela seja, não ilumina o assunto de maneira nova e útil, corte-a.”

22. Permaneça casado, seja saudável, tenha uma boa vida
King atribui seu sucesso a duas coisas: sua saúde física e seu casamento. “A combinação de um corpo saudável e um relacionamento estável com uma mulher auto-confiante que nada toma de mim ou de outra pessoa possibilitou a continuidade da minha vida profissional”, ele conta.
É importante ter um bom equilíbrio em sua vida para que a escrita não consuma tudo dela. Nos 11 “mandamentos da escrita” do pintor e autor Henry Miller, ele aconselha: “se mantenha humano! Veja pessoas, vá a lugares, beba se sentir-se bem para isso”.

Transcrito do Site http://homoliteratus.com/
Posted by:  , 
Traduzido do site Business Insider


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