domingo, 3 de outubro de 2010


A primavera chegou, e eu aqui, atrasado, mas ainda em tempo de registrá-la, com um especial poema de Walt Whitman.


Eis, cantando na primavera

Eis o que cantando na primavera eu colho para os amantes
(pois quem senão eu entenderia amantes e toda a sua mágoa e alegria?
e quem senão eu seria o poeta dos camaradas?),
colhendo atravesso o jardim do mundo, mas logo passo pelos portões,
ora à margem do lago, ora me adentrando um pouco, sem temer a umidade,
ora junto à cerca de mourões onde as pedras ali jogadas, provenientes dos campos, se acumularam
(flores silvestres e parras e ervas brotam em meio às pedras e as cobrem parcialmente, por tudo isso eu passo),
longe, longe na mata, ou perambulando tarde no verão, antes de me perguntar para onde vou,
solitário, sentindo o cheio da terra, parando aqui e ali no silêncio,
sozinho eu pensara: mas logo uma tropa se reúne ao meu redor,
alguns caminham ao meu lado e alguns atrás, e alguns me tomam pelo braço ou pelos ombros,
eles – os espíritos dos amigos queridos, mortos ou vivos – se ajuntam mais, uma grande multidão, e eu no meio,
colhendo, distribuindo, cantando, lá eu caminho ao lado deles,
pegando como lembrança uma coisinha aqui e ali, jogando para quem estiver perto,
aqui, um lírio, com um ramo de pinheiro,
aqui, do meu bolso, um pouco de musgo que retirei de um carvalho que se vergava para o solo na Flórida,
aqui, folhas de louro e cravina, um punhado de sálvia,
e aqui o que eu retiro da água, passeando à margem do lago,
(oh, foi aqui que eu vi por último aquele que me ama ternamente e que retorna para jamais se separar de mim,
e este, este será para sempre o sinal dos camaradas, esta raiz de cálamo será,
troquem-no uns com os outros, ó jovens, e nunca o devolvam!),
e galhinhos de bordo, e um monte de laranjeiras silvestres e castanhas,
e ramos de groselha e o cheiro das ameixas e o cedro aromático,
tudo isso eu, cercado por uma multidão de espíritos,
vagueando, aponto ou toco quando passo, ou jogo a esmo a partir de mim,
indicando para cada um o que ele terá, dando alguma coisa a cada um;
mas o que retirei da água à margem do lago, isso eu reservo
e o hei de dar, mas somente àqueles que amam como eu mesmo sou capaz de amar.

hese I Singing in Spring
by Walt Whitman
(1819-1892)

These I singing in spring collect for lovers,
(For who but I should understand lovers and all their sorrow and joy?
And who but I should be the poet of comrades?)
Collecting I traverse the garden the world, but soon I pass the gates,
Now along the pond-side, now wading in a little, fearing not the wet,
Now by the post-and-rail fences where the old stones thrown there,
pick'd from the fields, have accumulated,
(Wild-flowers and vines and weeds come up through the stones and
partly cover them, beyond these I pass,)
Far, far in the forest, or sauntering later in summer, before I
think where I go,
Solitary, smelling the earthy smell, stopping now and then in the silence,
Alone I had thought, yet soon a troop gathers around me,
Some walk by my side and some behind, and some embrace my arms or neck,
They the spirits of dear friends dead or alive, thicker they come, a
great crowd, and I in the middle,
Collecting, dispensing, singing, there I wander with them,
Plucking something for tokens, tossing toward whoever is near me,
Here, lilac, with a branch of pine,
Here, out of my pocket, some moss which I pull'd off a live-oak in
Florida as it hung trailing down,
Here, some pinks and laurel leaves, and a handful of sage,
And here what I now draw from the water, wading in the pondside,
(O here I last saw him that tenderly loves me, and returns again
never to separate from me,
And this, O this shall henceforth be the token of comrades, this
calamus-root shall,
Interchange it youths with each other! let none render it back!)
And twigs of maple and a bunch of wild orange and chestnut,
And stems of currants and plum-blows, and the aromatic cedar,
These I compass'd around by a thick cloud of spirits,
Wandering, point to or touch as I pass, or throw them loosely from me,
Indicating to each one what he shall have, giving something to each;
But what I drew from the water by the pond-side, that I reserve,
I will give of it, but only to them that love as I myself am capable
of loving.

2 comentários:

Cynthia Lopes disse...

Que presente Jopi! Obrigada, bjs

Blog do Jopin disse...

Cynthia, obrigado por compartilhar a minha admiração por tão belo poema, com a sua cativante sensibilidade em apreciá-lo. Não é um presente meu; foi nos ofertado por Walt Whitman. Fui apenas o “Papai Noel” que saiu distribuindo seus versos por aí..(rs). Bijuss do Jopin