quarta-feira, 15 de julho de 2009

Obsoletismo humano


Assistindo a TV, vejo que a novidade lançada nos salões de beleza, decorrente de um salão anual de novidades, em São Paulo, era um compressor.
Compressor? Assustei-me com a brutalidade do instrumento. Sei que um compressor serve para muita coisa, mas, para a beleza?
É, creiam! Um compressor vai substituir pincel, que já substituiu o pompom, o aplicador, na aspersão dos pós, cremes, tintas, blush e tudo mais que cobre a face das mulheres.
A apresentadora da novidade dizia que há que ter muito cuidado e habilidade, pois pode se estragar todo o trabalho com um gesto mais descuidado.
Pena! Não sabem o que se perde com o carinho de um pincel, que além de aplicar o pó, leva um pouco de afeto e carícia também, mesmo não sendo o fim especifico do ato, mas por um benéfico efeito colateral.
E o que se faz com os pincéis e tudo o mais?
Lixo...
É, pois todo mundo, para participar e ficar atualizado – upgraded – não mede sacrifícios para a novidade. Nem quem aplica, tanto o profissional quanto o cliente, o aplicado. E se você, mulher atualizada, não se submete à novidade, o que será de sua conversa com a amiga que disse estar chegando de uma “comprimida” (sessão de compressão facial) na face e não uma de maquilagem?
E com isso, os lixões se sucedem. Não há mais tempo para as coisas amadurecerem; aprenderem a ser usadas; ter a sua vida útil e aguardar brotar a nova evolução.
Mas será que tudo precisa mudar?
O guarda chuva é o mesmo até hoje. Já se fez de tudo para substituí-lo, no entanto, até as rainhas não o dispensam nos dias de chuva.
E o lixão vai crescendo..
Os raladores de legumes, os pratos redondos, o rádio que só pega AM, etc e tal...
E, nesse ambiente de cozinho, - uffaaaa - quanta coisa nova, e inútil!
E o dos computadores, informática e tudo mais: som, tv, telefones, gadgets eletrônicos?
Haja adaptação.
Agora, estou temendo que as pessoas que não evoluam como as empresas e corporações desejam, comecem a ser substituídas pelos novos “produtos-seres” ou vice-versa.
É, e isso já acontece. Tanta gente dispensada, desemprego.
E o pior é quando alcança a família, em que os obsoletos membros são jogados num asilo e/ou entregues a uma acompanhante, pois não há tempo para a família cuidar do “produto” em desuso.
Tanto a aprender, tanto a ser ensinado. Tanto a se ganhar, mas muito a se perder!
Não se esqueça! Todo mundo envelhece!
Jopin Pereira

Ensina-me

Bertold Brech
in “Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas”
Tradução de Paulo Quintela


Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.

Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.

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