domingo, 19 de julho de 2009

Trova, pra que te quero?

Comemorou-se ontem, 18 de julho, o Dia Nacional do Trovador. A escolha dessa data está associada a uma homenagem ao poeta Luiz Otávio, pseudônimo usado pelo dentista, Dr. Gílson de Castro, carioca nascido em 18 de julho de 1916 que, de tão dedicado a essa arte, teve a si atribuído o título de Príncipe dos Trovadores.

Devido à minha recente imersão ao universo da trova, apesar de elemento poético sempre presente em nossas vidas, procurei valer-me de informações de diversas fontes da Internet para dar corpo e validação a este post. Ao final, cito as fontes, por respeito e admiração aos autores, aos quais peço licença pela utilização e agradeço a contribuição.

Por alguns, considerada poesia menor, a trova é arte antiga, melhor diria, clássica. Tradição iniciada por volta do século XI d.C. , durante esse período as poesias passam a ser acompanhadas de músicas, o que perdurou por muito tempo, havendo inclusive remanescentes desta tradição em nossa famosa literatura de cordel, muito conhecida no nordeste brasileiro.

Os primeiros trovadores modernos surgiram no século passado na Espanha e Portugal, na esteira dos folcloristas que as recolhiam em meio ao povo. Tem sua origem na poesia trovadoresca medieval que evoluiu para o que hoje conhecemos como a trova moderna. Criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França, expandiu-se no século XII por grande parte da Europa e floresceu por quase duzentos anos em Portugal, França e Alemanha.

De construção elaborada, parece ter sido fácil a sua feitura quando lida, tal a beleza da simplicidade que transporta. Ainda hoje, alguns homens de letras se recusam a reconhecer o valor da trova, considerando-a como consideram coisa sem valor intelectual.

Uma trova de Adelmar Tavares, advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nascido em Recife, em 16 de fevereiro de 1888, e falecido no Rio de Janeiro, em 20 de junho de 1963, que foi acadêmico da Academia Brasileira de Letras, quinto ocupante da Cadeira 11, reflete a importância, a grandeza e asimplicidade da trova e traz um precioso argumento contrário à essas opiniões.
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita,
tão difícil de fazer.

Que o leitor me desculpe, mas tenho que falar um pouco da técnica da trova, para mostrar que não é um simples arranjo de palavras, tão fácil como alguns julgam, mas também não tão difícil que impeça alguém de sensibilidade criar as suas. Um exemplo de simbiose perfeita entre a técnica e sensibilidade.

A trova tradicional é uma composição poética de quatro versos de sete sílabas poéticas (heptassilábico) cada. As sílabas poéticas são contadas pelo som, acompanhando a emissão natural da voz. Na contagem dos versos, o número de sílabas poéticas é contado somente até a última sílaba tônica. As restantes, após a tônica são desprezadas. Essa construção pode ser exemplificada numa trova muito conhecida, a seguir:
Eu/ vi/ mi/nha/ mãe /re/zan/do
Aos/ pés/ da / Vir/gem/ Ma/ri/a
E/ra_u/ma/ San/ta_es/cu/tan/do
O /que_ou/tra /San/ta/ di/zi/a

Quatro versos, sete sílabas poéticas e oito sílabas gramaticais (apenas o último verso contém nove)

O mais comum é encontramos trovas em que o 1º verso rima com o 3º e o 2º verso com o 4º. Em trovas mais antigas acontecem rimas do 1° verso com o 4° e do 2º verso com o 3º, além de do 1º verso com o 2º e do 3º verso com o 4º. Há ainda trovas em que se faz rima apenas do 1º verso com o 3º, mas isso não é bem visto e nem sempre aceito em concursos.

A trova, para ser bem feita, tem de ter um achado. Achado é algo diferente, uma surpresa, uma conclusão no último verso. Adelmar Tavares diz : "Nem sempre com quatro versos setissílabos, a gente consegue fazer a trova; faz quatro versos, somente". Ou seja: não é trova se não houver o achado.
Para exemplificar a presença do achado numa trova, trazemos essa inspirada composição de Durval Mendonça:
Ao beijar a tua mão,
que o destino não me deu,
tenho a estranha sensação
de estar roubando o que é meu...

Porque o Destino não lhe deu a mão da mulher amada, e a sensação de roubar algo só pode acometer quem não possui aquilo que supostamente rouba. Supostamente rouba, ao mesmo tempo em que, no íntimo, a tem como sua: roubar aquilo que é seu. Mas como pode roubar aquilo que é seu? Porque, no fundo, não é seu. E é nesta contradição que reside o achado desta trova.

Longe de mim, querer criar aqui um tratado sobre a trova. Não disponho do conhecimento necessário a essa tarefa e, a minha incursão no estudo do tema é recente. Existem textos muitos ricos, com abordagens de diversos níveis, do teórico ao popular, de trovadores e estudiosos que se dedicam a esse elemento poético, como se costuma dizer, “desde as priscas eras”. Quero apenas, com a incorporação desse resumo de informações, divulgar essa nobre arte e trazer uma mínimo de conhecimentos que permita a compreensão da sua importância e beleza, como está sendo para mim, ao homenagear os trovadores nesse seu dia.

Vamos então ao que mais interessa. Mostrar algumas das trovas que me tocam, e espero que tenham o mesmo efeito em quem as leia. Um pequeno mosaico de simplicidade, alegria, humor, picardia, inocência.
Trovas populares de autores que desconheço. Se alguém souber, peço que me informem:

Eu sou bem pequenininha
do tamanho de um botão
carrego papai no bolso
e a mamãe no coração

Atirei um cravo n'água
de teimoso foi ao fundo
os peixinhos responderam
viva dom Pedro II

Nas pernas a “cola” é escrita
e, o professor espreitando
fica feliz quando a Rita
ergue a sai e vai colando

Morreram muitas piranhas
quer motivo comprovado ?
as pobrezinha comeram
um político afogado

Século 13: da novela de cavalaria espanhola Amadis de Gaula extrai-se a primeira trova independente — sem ser refrão de cantiga — de que se tem notícia, escrita em português arcaico e de autoria do poeta da corte de Dom Diniz, João de Lobeira:
Leonoreta fin roseta
Leonorzinha, fina rosinha
bela sobre toda fror
bela acima de qualquer flor
Leonoreta nom me meta
Leonorzinha, não me ponha
em tal coita vosso amor
em tal tristeza vosso amor

1900: De autoria Antônio Correia de Oliveira,
Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
Um a sentir quando bate,
outro a bater quando sente.

Do grande Machado de Assis
Ao nosso espírito ardente,
na avidez do bem sonhado,
nunca o passado é presente,
nunca o presente é passado.

Uma do Osório Duque Estrada (autor na letra do Hino Nacional Brasileiro
O amor perturbou-me tanto,
que este combate deploro:
querendo chorar, eu canto;
querendo cantar, eu choro!

Trova humorística da autoria de A. A. de Assis :
um homem de 70 e poucos anos, grande trovador fluminense.
Amigo/amiga, reparto
este espanto com você:
o parto não é mais parto;
é download de bebê.

Páro por aqui para o post não vira poste. Espero ter despertado no leitor a curiosidade e o interêsse em conhecer essa forma interessante da expressão poética. Com a facilidade da Internet, aqueles que se motivarem poderão encontrar inúmeras páginas ricas em informação e uma antologia universal de trovas.

Encerro a homenagem fazena a tentativa de construir uma trova, a primeira de minha vida – momento histórico - contaminado que fui, pela imersão a esse mundo mágico dos trovadores.

para a trova fiz um post
no blog do jopinando
o achado ficou tão ghost
nem eu mesmo estou achando

Comentem e enviem as trovas de sua preferência. E até de sua autoria.
O espaço é livre e a trova, mais ainda.
Jopin Pereira

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/trovas/1143428
http://www.iraiverdan.com/visualizar.php?idt=1636970
http://pt.wikipedia.org/wiki/Trova
http://www.overmundo.com.br/overblog/origem-da-trova
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=14&sid=156http://www.kathleenlessa.prosaeverso.net/

7 comentários:

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

JOPINANDO,
"Eu estou opinando tb"
PARABÉNS PELA INICIATIVA que valoriza a TROVA.
Conte com as minhas colaborações prazerosas.Vi, com alegria, que VC citou minha página do Recanto das Letras. Sou uma pesquisadora que gosta de estudar a TROVA e os TROVADORES.Saudações trovadoras,
Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil.Pretenço à UBT, desde 1973.

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

PRIMEIROS TROVADORES IMORTAIS EM LÍNGUA PORTUGUESA: NACIONAIS E INTERNACIONAIS/// DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO XXI, em 70 Letras do nosso Alfabeto.

PRIMEIRA PARTE:
Acróstico-histórico Nº 1960
Por Sílvia Araújo Motta

1-P-Primeiros Trovadores nas vozes afinadas dos Jograis
2-R-Revelaram-se cantando versos no sul da França,
3-I-Inicialmente. Depois espalharam-se pela Europa. Há
4-M-Mais de mil anos chegaram à Espanha e afinal
5-E-Em Portugal: o seu mais fértil canteiro imortal;
6-I-Iam aos Palácios para alegrar Reis e Convidados...
7-R-Realizavam Saraus, pondo música nas “Quadras”
8-O-Ou na “Poesia dos Reis” como eram chamadas;
9-S-Serviam delas: Gil Vicente, Camões, Augusto Gil;
-
CONTINUA...

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

SEGUNDA PARTE:

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10-T-Tantos outros: Fernando Pessoa, A.Correia de Oliveira;
11-R-Recebidas das Caravelas,TROVAS chegaram ao Brasil!
12-O-O povo logo passou a declamar as Quadras Populares:
13-V-Vários adeptos, poetas/autores em Língua Portuguesa.
14-A-A TROVA ganhou fama e atravessou todos os mares:
15-D-Digna de estudos especiais, decálogos essenciais!
16-O-O Padre José de Anchieta usou-a na catequização.
17-R-Românticos:Gonçalves Dias, Cassimiro de Abreu, Castro Alves,
18-E-E os Árcades:Cláudio M. da Costa, Alvarenga Peixoto:
19-S-São famosos Inconfidentes e também Tomaz A. Gonzaga.
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CONTINUA...

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

20-I-Inúmeros parnasianos: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira;
21-M-Muitos outros, como o Trovador Vicente de Carvalho.
22-O-Os simbolistas Cruz e Souza, Alphonsus de Guimarães,
23-R-Revelações modernistas, M.Bandeira, Mário de Andrade,
24-T-Também escritas por Carlos Drummond de Andrade...
25-A-A grande expansão da TROVA do Brasil, na verdade,
26-I-Iniciou com a Coletânea:“Meus Irmãos, os Trovadores”
27-S-Seleção de duas mil trovas,organizada por Luiz Otávio/1956.
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CONTINUA...

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

28-E-Era Luiz Otávio, o Trovador mais conhecido do Brasil,
29-M-Mas foi Adelmar Tavares que ocupou a Cadeira de Trovador:
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30-L-Levou este valor para Academia Brasileira de Letras!
31-Í-Inúmeros Trovadores Brasileiros estão consagrados:
32-N-Nos anais: Belmiro Braga, B.Tigre, Lilinha Fernandes.
33-G-Grandiosa na cultura, a Trova foi divulgada no Rádio.
34-U-Um Jornal carioca “O GLOBO” em 1959, divulgou e
35-A-Apoiou I Jogos Florais de Nova Friburgo/R.de Janeiro.
-
36-P-Para Luiz Otávio e J.G. de Araújo Jorge foi a glória.
37-O-O espaço jornalístico cresceu e o nº de Boletins também.
38-R-Ricas Antologias, Regulamentos, Estatuto Nacional
39-T-Trouxeram a consolidação do Maior Movimento Literário
40-U-Único na Literatura Brasileira,que vem da Idade Média.
41-G-Grande Festa premiou I Concurso de TROVAS, em 1960,
42-U-Um tema especial: “Amor” reuniu vencedores imortais:
43-E-Eneida,Antonio Olinto, Jorge Amado, Manuel Bandeira.
44-S-São centenas de Concursos de Trovas Mensais, que HOJE
45-A-Agradam Vencedores e Participantes Internacionais.
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CONTINUA...

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

46-N-Na internete pode-se avaliar a EXTENSÃO da TROVA:
47-A-As festas de Premiação no Brasil, Portugal, Espanha .
48-C-Com alegria duram três dias, após conceituado trabalho,
49-I-Importante das Comissões Julgadoras Internacionais;
50-O-Ostentam Trovas Vencedoras,Menção Honrosa e Especial
51-N-Na entrega de Troféus, Medalhas, Diplomas,Homenagens.
52-A-A característica é cultural e não tem prêmio em dinheiro.
53-I-Incontáveis Trovadores participam das Reuniões Mensais.
54-S-São mais de 5 mil sócios na União Brasileira de Trovadores.
-
55-E-Em todos os Estados e Municípios há sempre um Trovador.
-
56-I-Inaceitável pelos poetas modernos,o “Decálogo Trovador”
57-N-Naturalmente, veio facilitar o trabalho dos “Julgadores”
58-T-Trata-se da apresentação dos critérios básicos, poéticos:
59-E-Ensinam os dez critérios, que atendem a metrificação...
60-R-Rima-se o 1º verso com o 3º e o segundo como o quarto.
61-N-Na concisão é exigido o pensamento completo e musical.
62-A-As TROVAS podem ser: filosóficas, humorísticas,líricas,
63-C-Consideradas escabrosas, não são aceitas nos Concursos.
64-I-Imortal mineira Lucy Sother de Alencar Rocha recebeu
65-O-O Troféu de Magnífica Trovadora, único em B.Horizonte.
66-N-Nos Congressos, Recitais, Oficinas,Sessões de Autógrafo
67-A-A Trova é uma especialidade dentro do gênero POESIA,
68-I-Irradia alegria, união, cultura, comunicação, paz e amor.
69-S-Ser Trovador é ser Poeta, mas nem sempre o Poeta é Trovador.
-
70-B-Belo Horizonte/MG/Brasil, 26 de julho de 2008.
--
Foi votado e eleito em 48 horas/ Conferir:

http://www.overmundo.com.br/banco/primeiros-trovadores-imortais-em-lingua-portuguesa-nacionais-e-internacionais
---***-----

Blog do Jopin disse...

Obrigado pela visita, trovadora Sílvia.
Surpreendeu-me agradavelmente com a sua sensibilidade, conhecimento, gentileza e generosidade para com esse com esse aprendiz de poeta.
Volte sempre.
Saudações poéticas
Jopin Pereira

bem-vinda trovadoramiga
que brinda-me com seu encanto
ofertando doce palavra
brotada em seu recanto

essas imperfeitas trovas
de um trovador aprendiz
carregam pequenas provas
de tudo aquilo que diz

engalanou o meu dia
ao surgir à minha porta
numa lufada de poesia
a Sílvia Araújo Motta

espero-a sempre presente
aqui em tê-la “opinando”
com seu comentário eloquente
no recanto “Jopinando”